Grupo de activistas Crespo Angola escreve carta aberta para a Ministra da Educação

Grupo de activistas Crespo Angola escreve carta aberta para a Ministra da Educação

Carta para Ministra da educação Luísa Grilo 

À excelência Sra. Ministra Luísa Grilo, em nome do movimento social Crespo Angola viemos em nome de toda comunidade estudantil angolana pedir-lhe para que nos ajude a fazer o resgate das nossas raízes como negros africanos. 

É de nosso conhecimento que milhares de estudantes estão a ser impedidos de ter acesso ao recinto escolar caso não cortem obrigatoriamente o cabelo, e muitos jovens ainda sofrem com restrições nos recintos escolares prejudicando assim o processo de aprendizagem, sendo que o cabelo crespo não interfere em nada no processo de aprendizagem e nem nos define como indivíduos. Mas é a nossa identidade visual a forma como nos apresentamos ao mundo e a nossa identidade como homens negros angolanos.

É lamentável sermos um país democrático e não termos nem o direito de escolha sobre como queremos nos identificar, seguindo padrões obrigatórios sobre a nossa própria escolha pessoal. É ainda mais triste sermos africanos e morarmos num país que é 90% constituído por pessoas negras e sofrermos com o colorismo nas escolas angolanas. Sendo que a escola é um lugar de aprendizado e não de repreensão, é o lugar onde as crianças e os adolescentes passam maior parte do tempo, não faz sentido existir um regulamento escolar a exigir o corte obrigatório do cabelo masculino e que vai contra os direitos humanos.

Esperamos por uma resposta por parte do ministério da educação o quanto antes a fim de solucionarmos juntos essas questões, que nos dividem como povo e nega o direito de escolha às crianças. O nosso cabelo não nos define como indivíduos numa sociedade, mas nos define como africanos dentro de uma sociedade africana que sofreu durante dois séculos com a colonização e a destruição da sua cultura e modo de vida.

A nossa luta é muito mais que uma questão de identidade individual. Nós lutamos para resgatar a nossa identidade como povo africano lutando contra o preconceito que por anos esteve presente nas nossas vidas, mas esta luta só poderá ser travada com a sua ajuda.

Esperamos pela sua resposta.

Muito obrigada!