Não é novidade que o exercício tem a capacidade de fortalecer a mente. No entanto, cada vez mais homens e mulheres lutam contra problemas de saúde mental, e acabam por reduzir o rendimento desportivo.
Uma investigação realizada pela Universidade McMaster, no Canadá, sugere que com a pandemia do Covid-19 criou-se um paradoxo onde a saúde mental tornou-se tanto um motivador como uma barreira para a actividade física. Questionados 1.600 indivíduos, para entender melhor como a saúde mental afectou o exercício físico durante o curso da pandemia, concluiu-se que as pessoas querem ser activas, mas o stress e a ansiedade atrapalham.
Os participantes que afirmaram ter maiores declínios na actividade física, obtiveram os piores resultados a nível da saúde mental. Por outro lado, os entrevistados que mantiveram os níveis de exercício físico conseguiram resultados muito melhores. Apesar de o exercício prometer reduzir a ansiedade e depressão, muitos dos inquiridos sentiam-se demasiado ansiosos e desmotivados para treinar. Assim, o estudo encontrou uma correlação com pior saúde mental em participantes que diminuíram a atividade física. No caso oposto, níveis mais elevados de exercícios coincidiram com mentes mais saudáveis.
Tais resultados apontam para a necessidade de apoio psicológico adicional, a fim de ajudar a manter os treinos durante os períodos mais estressantes, reduzindo o efeito da pandemia e prevenindo o desenvolvimento de crises mentais. A actividade física tem um efeito psicossomático positivo, fazendo com que as pessoas recorram menos à medicações antidepressivas. Promove a síntese de neurotransmissores importantes para a felicidade, como endorfinas (diminuição da dor), serotonina (promoção do bem-estar), dopamina (sensação de recompensa) e noradrenalina (percepção, atenção e motivação). Funciona como um elemento de distração dos estressores do dia-a-dia. Provoca a libertação de químicos no cérebro semelhantes à morfina, reduzindo a dor física e mental, induzindo estados de euforia e bem-estar. E ainda atenua os efeitos prejudiciais do stress oxidativo (radicais livres de oxigénio associados ao envelhecimento e ao cancro).
É recomendável ter a avaliação das crises de ansiedade, realizada por um profissional. Deve fazer um programa de intervenção psicológica adequado, utilizando pelo menos um dos 4 modelos recomendados: modelo de extinção – submeter o atleta aos seus medos em ambiente seguro, fazendo-o lidar com os mesmos e reduzindo a ansiedade; modelo de contracondicionamento – neutralizar a ansiedade através do condicionamento (ex. dessensibilização sistemática); modelo cognitivo-mediacional – ênfase na interpretação mental como um determinante crítico na resposta a eventos de vida (ex. reestruturação mental); modelo de estratégias de coping – ganhar estratégias positivas para fazer frente às adversidades (ex. técnica de inoculação do stress).
É ainda essencial monitorizar aspectos fisiológicos característicos de estados insignes como batimento cardíaco, pressão sanguínea ou actividade cerebral. Por fim, são aconselhados programas de treino a longo prazo, com intensidade entre os 30% e os 70%, por períodos acima dos 30 minutos e com prevalência de exercícios aeróbios, que parecem ter um impacto positivo na ansiedade.